Poucos dias nos aproximam do Carnaval de Salvador. Nas primeiras semanas de um novo ano, a rotina da cidade já começa a se contornar aos brilhos multicores e alguns barulhos oriundos da montagem de camarotes. São ruídos em anúncio de uma festa que movimenta a capital durante uma semana. Os circuitos vão se adequando à realidade momesca. Para quem mora nas imediações, é um corre-corre corriqueiro. E para todos os outros soteropolitanos é um cronômetro em contagem regressiva (se é que pode existir isso), pois Salvador já respira e transpira festa desde dezembro.
Eu, como bom morador de Salvador e apreciador do carnaval, ainda me espanto (no sentido mais efusivo e sorridente) com tantos shows e ensaios de dezembro a fevereiro. E este ano a festa calhou de ser no início de março, o que gerou mais possibilidades de festejos, contando também com as festas de largo e as religiosas, do Bonfim à Iemanjá, de Itapuã à Ribeira.
Só para compreender um pouco o que é Salvador no verão, farei um recorte de um fim de semana: 15 e 16 de fevereiro. Nestes dois dias, não cabiam mais eventos na cidade. Era um fervo só. No sábado (15), aconteceu o desfile dos Palhaços do Rio Vermelho, um movimento cultural de resgate da cultura popular, que movimenta cada espaço do bairro boêmio e que permite a criatividade predominar em cada fantasia elaborada e colorida. Neste mesmo sábado, houve o encontro de Margareth Menezes,Daniela Mercury e Ivete Sangalo (essas últimas como convidadas), no Candyall Guetho Square. Encontro de três personalidades femininas marcantes da Axé Music que celebraram a arte de fazer música e cultura. Para quem foi: sorrisos e contentamento.
E quem disse que pode parar? A Noite da Beleza Negra do Ilê Aiyê fechou o sábado com tradição, ancestralidade e vanguarda. Já no dia 16 de fevereiro, um domingo, sinônimo de descanso, o Candyall abriu suas portas novamente para reverenciar Carlinhos Brown, tão singular e importante mestre de cerimônias da arte e musicalidade baiana. O cantor e compositor recebeu como convidados Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Caetano Veloso, coadunando um dialogismo entre musicalidades desses quatro artistas. Para terminar o domingo, ocorreu o ensaio de Tony Salles, inaugurando uma nova fase do cantor, após sair da banda Parangolé. Puro suco do bom pagode.
É sabido que muitos desses ensaios, shows, festas são pagos (alguns mais acessíveis que outros) e alguns poucos gratuitos. Nada muito novo na cidade intitulada pela Unesco de “Cidade da Música”. E haja bolso para caber tanta alegria.
E o que se pode esperar do Carnaval? Suponho que a musicalidade fará vivenda (estar vívida) em cada corpo humano diverso, colorido e empoderado. Corpos que se movimentam, sincrônicos ou não, na celebração de um festejo cada vez mais democrático (que bom!). Salvador em efervescência.
Um bocado de mãos e um balaio de megatons é o que nos espera neste Carnaval.
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