Nasci na década de 1980. Dez anos de movimentações culturais pulsantes no Brasil e não menos aqui, em Salvador, cosmopolita em sua essência, que daria início à ressignificação do carnaval brasileiro. Não foi a década que se originou a festa momesca, porém foi a década que gestou um dos ritmos mais eletrizantes (da guitarra baiana ao Trio Elétrico), que é o Axé Music.
O Trio Elétrico já existia. Fato! Tocava-se alguns ritmos predominantes em outros carnavais, como o frevo e o galope. Também é fato que, da mistura de culturas, bebendo-se da fonte do samba-reggae, brotaram o Fricote (lá no germe de tudo) à atualidade com o pagodão (vide naipe baiano). Não se sabe ao certo se todos aqueles que iniciaram esse processo imaginavam o boom desse ritmo que se estendeu por todo o Brasil. Criou-se, a partir daí, uma identidade: o baiano é festeiro, o baiano é carnaval.
Hoje o carnaval de Salvador agrega vários ritmos. Ainda há predominância do Axé Music, mesmo não estando no auge como nas décadas de 90 e 2000. Muitos músicos e jornalistas suspeitam que o ritmo baiano não existe mais. Já para outros, camuflou-se em outras vertentes musicais, como o pagode baiano, que inicia-se com referências ao samba de roda e, na atualidade, resgata a percussividade do samba-reggae ao novo estilo: o naipe.
Diga-se de passagem, mesmo com tantas especulações acerca deste tão envolvente ritmo “axezeiro”, sinto-me à vontade em sair às ruas de Salvador para curtir, no mínimo, três dias de festa. Não nego, também, que ainda me emociono e canto a plenos pulmões as antigas (e tão boas ainda) músicas do panteão da Axé Music.
Recentemente, tive o prazer de curtir o primeiro ensaio da Banda Mel (Já Pintou Verão), com Márcia Short e Robson. Nostalgia pura. Desfrutei do ótimo álbum de Márcia Castro, Roda de Samba Reggae, que visita algumas músicas, como Jeito Faceiro, de Jau, que logo no início da leitura musical da cantora, há um “sample” de Taboão, da Orkestra Rumpilez, do saudoso Letieres Leite. Sem esquecer da banda BaianaSystem, que mistura o que há de melhor de vários estilos musicais da nossa terrinha. O Navio Pirata que nos conduza e nos conceda epifania em mais um carnaval.
Essas releituras são dignas do quão criativo é o soteropolitano (de cada parte da cidade que soa o tambor em vida).
Soube que o álbum Magia, de Luiz Caldas, entrou nas plataformas digitais. Álbum primordial e fantástico para nos preencher e celebrar a memória afetiva de 40 anos de Axé Music.
É perceptível que o Axé Music ainda pulsa em cantos de cada nova música que surge em Salvador. O ritmo pode parecer estático, mas ele se movimenta em nuances inovadoras de tantas outras bandas que compõem o cenário musical de Salvador e de seu carnaval. Ser nostálgico não me faz acreditar que antes, lá no advento dessa arte, tudo era muito melhor do que é hoje. É diferente. Há inovação e espera-se que aqueles(as), que fazem música baiana, tenham olhos atentos para o que já foi. Não para lamentar, e sim, renovar o que já é tradição. Tomem para si o trecho da música Magia que diz: “Tempo, seque logo o meu pranto/ Acorde de novo o meu canto/ Faça de mim uma estrela a brilhar”.
Mais um carnaval bate à nossa porta.
Axé Baba!